quinta-feira, 29 de abril de 2021

Libertando o prisioneiro.

Depois de muito tempo te libertei um pouco. Tendo esperança que você mudou, melhorou.
É com pesar que descubro que não, que tudo ainda funciona da mesma forma que antes. 
Que a tua linguagem é dor, não por mal, mas por ser a única forma de comunicação que conhece.
E não reclamo, a culpa é minha, de nunca ter lhe apresentado outras formas.
Mas isso não muda a dor que traz.

Por algum tempo, havia desistido de ti, te esquecido completamente.
Te deixei na solitária, sem luz, sem alimento, sem atenção.
Esperei que tivesse definhado, virado pó. 
Preocupado contigo e com tua sanidade,
te tranquei a sete chaves.

Te livro por instantes, como quem leva um cão pra passear e fico bravo por juntar os dejetos que produz, sendo que é o processo natural da tua existência.
Agora eu entendo que é assim por ser, e não por uma possível relação de ódio.
De qualquer forma, não conseguimos nos comunicar.
Eu falo três línguas diferentes e nenhuma delas é a sua.

Com grande injustiça, lhe digo, se prepare pra voltar para o cárcere.
Essa nossa relação parece que nunca vai ser saudável e não podemos conviver.
Eu posso não ter tanto poder quanto você, mas tenho poder suficiente pra manter preso.
Esquecido e isolado.
Quem sabe no futuro me esqueça de tudo o que causou.
Quem sabe sinta saudade de ti e queira lhe ver mais uma vez.
Quem sabe tenha aprendido a comunicar contigo.


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